O termo Vodun aplica-se aos ramos de uma tradição religiosa teísta-animista baseada nos ancestrais, que tem as suas raízes primárias entre os povos Fon-Ewe da África Ocidental, no país hoje chamado Benin, anteriormente Reino do Daomé ou Dahomey, onde o vodu é hoje em dia a religião nacional de mais de 7 milhões de pessoas.
Além da tradição fon, ou do Daomé, que permaneceu em África, existem tradições relacionadas que lançaram raízes no Novo Mundo durante a época do tráfico transatlântico de escravos africanos.
Para além do Benin, o vodu africano e as práticas que dele descendem podem ser encontrados na República Dominicana, Porto Rico, Cuba, Brasil, Gana, Haiti e Togo. A palavra vodun é a palavra Fon-Ewe para divindade.
A tradição Fon mais ou menos “pura” de Cuba é conhecida como La Regla Arara.
No Brasil, a tradição Fon dos antigos escravos deu origem à tradição conhecida como Candomblé Jeje.
Chamado Sèvis Gine ou “serviço africano” no Haiti, o Vodu Haitiano tem também fortes elementos dos povos Ibo, Congo da África Central, e o Yoruba da Nigéria, embora muitos povos diferentes ou “nações” da África têm representação na liturgia do Sèvis Gine, assim como os índios Taíno, os povos originais das ilhas agora conhecidas como Hispaniola.
Formas crioulas de Vodu existem no Haiti (onde é nativo), na República Dominicana, em partes de Cuba, e nos Estados Unidos, e em outros lugares em que os imigrantes de Haiti dispersaram durante os anos. É similar a outras religiões da diáspora africana, tais como Lukumi ou Regla de Ocha (conhecida também como Santería) em Cuba, Candomblé no Brasil, todas essas religiões que evoluíram entre descendentes de africanos transplantados nas Américas.
Loas ou Lwas
Loas ou Lwas são os espíritos do Vodu. Os Loas do Vodu haitiano são divididos em Famílias que são:
Família Rada
A Família Rada é composta de Loas antigos e ligados à criação. São daomeanos. A cor cerimonial é o Branco. Dentre eles encontramos:
- Papa Legba: loa da ligação entre os homens e os loás, é o primeiro a ser saudado nas cerimônias de Vodu. No Brasil é conhecido como Vodum Legba e tem praticamente as mesmas atribuições.
- Ayizan Velekete: loa ligada a iniciação vodu e considerada a mulher de Papa Loko. No Brasil encontramos Vodum Ayizan que está ligada a Terra e aos ancestrais e cujo nome significa “esteira da terra”.
- Papa Loko: é o loa da iniciação, assim como Ayizan, e habita a árvore sagrada do Vodu. No Brasil é conhecido como Vodum Loko.
- Dambalah: é o loa serpente ligado a criação, casado com Aido Wedo e Ezili Freda.
- Aido Wedo: serpente do arco-íris, casada com Dambalah.
- Met Agwe (Maitre Agwe): loa do mar, casado com La Siren e Ezili Freda e namorado de Aido Wedo. Dizem que quando o arco-íris toca o mar Agwe está nos braços da amada. Também é conhecido um Vodum com o nome de Agboe.
- La Siren (Erzuliê La Sirene): loa cujo nome significa “A Sereia”, é considerada a Maitresse Dlo (Senhora das Águas) é a esposa de Agwe e pode ser associada tanto à Naeté quanto a Yemanjá.
- Ezili Freda Dahomey (Erzuliê Freda): é a loa da beleza, da vaidade e do amor. Leva três alianças, uma para cada marido (Dambalah, Agwe e Ogoun). É muito elegante e pode ser comparada com Oxun.
- Azaka: loa da agricultura e da humildade. Na representação muito se parace com os pretos velhos da umbanda.
- Bossu: é touro de três chifres, muito agressivo.
- Silibo: loa muito parecido com Nanã Buruku.
Família Ogoun
Formada por loas nagôs ou yorubas. Todos levam o primeiro nome Ogoun:
- Ogoun Feraille: é o loa ferreiro e guerreiro.
- Ogoun Shango: é o loa justiceiro (Xangô)
- Ogoun Ossange: ligado as ervas e a medicina (Ossaim)
- Ogoun Djansan: loa semelhante a Iansã
- Ogoun Oshala: Oxalá.
Família Ghede
Formada pelos loas mortos (almas), incluindo o Baron e a Maman Brigitte. São extremamente rudes e obsenos. A cor cerimonial é o purpura e o preto. O Baron é o pai ancestral da Família tendo quatro qualidades principais:
- Baron Samedi: é o chefe de todos. Marido de Maman Brigitte. Habita a cruz cerimonial dos cemitérios.
- Baron Cemitiére: é representado como um coveiro.
- Baron La Croix: é o mais refinado e educado, ligado ao mistério da morte.
- Baron Kriminel: é o mais agressivo.
Maman Brigitte é a mãe dos loas ghede.
Família Petro
Depois do Rada e do Ghede resta uma parte da cerimônia dedicada para os loa do grupo Petro.
Estes loa são predominantemente do Congo e de origem ocidental.
Sua cor cerimonial é vermelha.
Eles são considerados ferozes, protetores, mágicos e agressivo para com os adversários. Alguns deles:
- Ezili Dantor (Erzuliê Dantor): é uma loa velha e dedicada aos filhos, é porém muito agressiva. Tem o rosto coberto de cicatrizes, marca da rivalidade com a prima e vizinha Ezili Freda, lembrando a luta entre Oxun e Obá.
- Marinete Bwa Chec: loa ligada tanto a prisão como a liberdade. Dizem que em vida ela foi uma Mambo (sacerdotiza) que matou um porco para Erzuliê Dantor no final da Guerra do Haiti, libertanto seu povo.
- Karrefour ou Kalfour: é o lado obscuro de Legba. Dizem que quando Karrefour entra na cerimonia, todo o mal entra com ele.
- Simbi: é um loa ligado a ancestralidade e a antiguidade. Muito misterioso é um loa que vem do Congo.
Olá
achei interessante ler sobre sobre o vodu, mas não entendi uma coisa, seria ele o mesmo que todas as nações de candomblé reunidas, pois li que tem divindades de yoruba fon e congo?
obrigada
Olá Gisele,
Poderia-se dizer que sim do ponto de vista de reunião de cultura de povos. Mas o Vodu tem principalmente traços dos daomeanos/fons, com um pouquinho de yorubá e congo, e também o ritual do vodu é próprio e bem diferente do candomblé, com suas próprias divindades, rezas, etc.
oi, de onde vem essas informações, devem existir livros q falem sobre isso. Aradeço
muito bom, exclarecedor…
“Thiago
oi, de onde vem essas informações, devem existir livros q falem sobre isso. Agradeço.”
Sim Thiago, existem muitos bons livros sobre o vodu haitiano. Infelizmente a maioria é em francês, ou em inglês. Contudo você encontra alguma coisa em português.
Recomendo a você o livro, “Vodou Haitiano – Espírito, Mito e Realidade”. De Claudine Michel e Patrick Bellegarde-Smith, Editora Pallas.
A serpente e o arco-íris, de Wade Davis [Editora Jorge Zahar], também é um livro interessante. Apesar de ser bastante denso.
E é claro, “A Ilha da Magia: Fatos e Ficção”, de William Seabrook, Editora Hemus.
Este livro ganha grande relevância, por ter sido ele quem muito contribuiria para o forte preconceito, racismo, mito e deturpações sobre o vodu haitiano. Inspirando as industrias cinematográficas, a produzirem filmes que denigrem e demonizam essa religião afro-caribenha. Os tão famosos Zumbis, surgiram deste livro.
Boa leitura.
Gostaria de saber sobre o sincretismo de São João Batista com o vodu. E qual loa representa.
Vania os òrìsà são descritos muitas vezes através de santos católicos, agora sobre Voodo eu não conheço.
Se alguém detém a informação gostaria de compartilhar, apesar de ser completamente contra essa forma de ver nossa religião;
Ire alaafia
Tem alguma casa aqui em São Paulo que realize esse culto ?
Karina,
Não tem no Brasi, somente no Haiti.
Axé.
Boa Tarde Fernando
Tenho uma dúvida relativamente feitura obrigatório raspar o cabelo para renascer, mas um pai de santo me disse que não era obrigatório porém eu não poderia nunca raspar um filho de santo caso me tornasse Yalorixa, isso é verdade?
Existe essa opção de NÃO Raspar? Ketu?
É o único impedimento seria não fazer o mesmo com filhos de santo caso fosse ter cargo?
Ou mesmo você não querendo o santo pode obrigar ou exigir?
No crescimento na evolução 7 anos de yawo para ebomi mudaria alguma o fato de não cumprir o rito raspar?
Obrigada
Axe
Acacia,
Sim é obrigatório raspar a cabeça justamente porque o cabelo acumula energia positiva ou negativa não se sabe a proporção, estar com a cabeça limpa (raspada) é condição primordial para se tornar um iyawo. Nas principais nações no candomblé (Ketu, Jêje, Angola, Egbá, efan) todos raspam a cabeça sem exceção. Discordo de maneira enfática desse zelador que disse que não é obrigatório o Iyawo se iniciar sem raspar.
Axé.